As práticas de tingimento e estamparia natural estão ganhando cada vez mais espaço no mercado de moda, tanto nacional como internacional. Apesar da demanda atual de hiperconsumismo fomentar as práticas de produção em massa, temos movimentos de contrapartida como o Slow Fashion, que apoia práticas que não agridem a natureza e não aceleram o tempo real da cadeia produtiva.
O processo de tingimento natural e de estamparia botânica não faz sentido em um cenário de hiperconsumismo, já que esses processos exigem um pensamento novo em relação a produção e consumo. Mas devemos lembrar que a solução não está apenas na troca dos processos, mas sim adotar uma nova atitude diante do sistema produtivo atual.
O maior motivo de utilizar o tingimento e estamparia natural é por conta dos poluentes gerados pelos produtos sintéticos que são ricos em metais pesados, fazendo da indústria da moda uma das maiores responsáveis pela poluição das águas do planeta por meio, também, do descarte de resíduos de processos de tingimento não devidamente tratados.
No Brasil apesar de termos uma flora abundante e diversa, ainda são poucas as marcas que investem em tingimento ou estamparia botânica, mas o movimento está em expansão e a previsão é que mais empresas adotem e produzam seus produtos seguindo essa vertente ao longo dos próximos anos.
Um bom exemplo de marca sustentável, que está inserida no Slow Fashion e usa o tingimento natural é a estilista Flavia Aranha. Em suas coleções ela utiliza vários materiais para tingir as peças, entre eles, pó de café, cascas de cebola roxa e cascas de romã. Em sua coleção mais recente, verão 2018, as roupas foram tingidas com serragem de pau-brasil, crajiru, eucalipto, macela, arroz negro, ipê roxo, cebola amarela, tango, chá preto, carqueja e aroeira.
A preocupação com o meio ambiente e com quem produz os materiais que são usados, fazem parte do processo, a estilista favorece muito a cadeia produtiva, ao valorizar não apenas o produto final, mas também quem o produz. A marca mantém parcerias que com seus produtores, um deles é a cooperativa Amaria, de Mayumi Ito, em Muzambinho, Minas Gerais, que tece e tinge algodão e seda artesanalmente. Outra é a Natural Cotton Color, de onde ela adquiriu produtos feitos com o algodão colorido da Paraíba.
Outro nome interessante, mas dessa vez no cenário internacional, é a Rebecca Desnos que se intitula como uma “Natural Dyer”, e é especialista em tingimento e estamparia natural, ela utiliza diversas plantas e técnicas, e explica um pouco dos processos desenvolvidos por ela mesma em um livro lindo, disponível em seu site.
Fazer uso de produtos naturais e orgânicos é uma ótima alternativa de tingimento em relação ao processo que utiliza matéria prima sintética, já que os corantes de origem natural e orgânica não agridem a natureza, valorizam a biodiversidade, minimizam o impacto ambiental e complementam o discurso de sustentabilidade dentro da moda.