O olhar de Camila
Por Camila Beaumord
Fundadora de uma das marcas de semijoias mais bem-sucedidas do Brasil, Camila Klein conquista as brasileiras com suas criações há 13 anos. A grife homônima da artista plástica é uma das referências quando se trata de fashion jewelry no país – suas coleções estão presentes em 400 pontos de vendas, o que corresponde a mais de 50% de seu faturamento. A outra metade vem das lojas próprias (13 no total) e da loja virtual.
Conciliar a vida de empresária, de criadora e de mãe é uma proeza que Camila, como muitas mulheres modernas, busca pelo equilíbrio em seu dia a dia. “Fazemos as nossas escolhas,” filosofa a designer. “Mas amo o que faço”. Sorridente e tagarela (“Espero que seu gravador esteja com a bateria carregada, porque eu falo para burro!” brinca antes de começar a entrevista), Camila conversou conosco para a última edição da Revista Catarina com sinceridade sobre os desafios do mercado, a indústria criativa e como dirige sua marca. Leia uma parte da entrevista aqui.
Revista Catarina: Falamos muito de criatividade hoje. Para você, que cria dentro de uma área altamente competitiva, como funciona o seu processo?
Camila Klein: Acho que a inspiração vem do olhar. Não só para mim, mas para qualquer criador. O seu olhar pode ver tudo e você transformar qualquer coisa em uma grande coleção.
RC: Ou olhar para tudo e não ver nada.
CK: Exatamente. É difícil eu definir um processo criativo. Não sigo um passo a passo. Não vou atrás; a inspiração chega para mim. É muito diferente.
RC: Como você encara o mercado?
CK: É muito desafiador. Competitivo. Nunca podemos parar. O mercado da moda é como uma grande ampulheta, que vira o tempo todo. Quando isso acontece, a areia começa a cair. Aí na hora que está terminando, tem que virar de novo. E de novo. E é uma ampulheta bem pequenininha, sabe? Aquela de jogo.
RC: Como funciona a produção da marca?
CK: Temos as coleções, lógico, mas nós lançamos 24 famílias por ano, mensalmente. Como o mercado está cada vez mais competitivo e mais desafiador, você tem que criar constantemente. Na moda, se formos analisar objetivamente, estamos criando vestimentas. Nos acessórios, a mesma coisa. A parte funcional da peça entra muito em conta. Então, de uma maneira bem espartana de ver, é como recriar o pão francês todo mês. Como você faz isso? Você precisa se reinventar e recriar diariamente.
Isso, sem falar nas outras necessidades da empresa. Organizar toda a parte de marketing, imprensa, coordenar as lojas, fazer com que tudo saia ao mesmo tempo. Produção. Fazemos tudo!
RC? Você sente necessidade de ir à empresa todos os dias?
CK: Sinto! Todo o dia, eu faço criação. Exceto nas segundas-feiras, porque eu supervisiono toda a parte burocrática da empresa, toda a parte de varejo e é quando eu faço reunião com as lojas. Mas o resto da semana, todos os dias, eu sento na criação. Não tem como ser diferente. Se eu viajo – porque eu viajo muito – eu reservo a parte da manhã para trabalhar. Respondo tudo, aprovo tudo por e-mail.
RC: Como é a sua equipe?
CK: O meu marido, Luiz Fernando, é meu sócio e cuida de toda a parte financeira. Mas a comunicação e fábrica, varejo e atacado, sou eu. Tenho uma equipe de quatro meninas que me ajudam, mas mais em busca de novos materiais, mais nessa parte de matéria-prima. A parte de estilo fica só comigo. Mas estou treinando para elas me ajudarem com isso também.
RC: É bastante trabalho.
CK: É, mas nós fazemos as nossas escolhas. Foi um longo caminho de pouco tempo, mas de muita história. A marca tem 13 anos. Ontem minha equipe estava reunida, jantamos, tomamos vinho. E as meninas que entraram agora [na empresa] começaram a perguntar sobre a trajetória. E aí que paramos para pensar. Foi um longo caminho, com muita história, muita luta, mas muito amor. Eu amo o que faço.
RC: Você disse que nossas escolhas dependem de nós. Você faria alguma coisa de forma diferente?
CK: Acho que não. Mas tenho uma fantasia: moraria na montanha. Afastada de tudo. Só eu e minha família. E andaria de ski o dia inteiro. Já pensou que delícia? Faria bijoux em uma cabana. (risos)
RC: O que é tendência para você, Camila?
CK: O que o seu olhar nunca viu. Para mim, é isso. Eu gosto daquilo que a minha lente nunca tenha visto. Quero que ela sempre se surpreenda com alguma coisa. Aí quando você olhou, explorou e aquilo é absorvido por outros, vira uma tendência. Para mim.
RC: Qual é o próximo capítulo da sua história?
CK: É continuar criando. Muitas peças. Quero que as minhas clientes aceitem mais coisas diferentes, para eu poder extravasar.