Por Patrícia Lima
Nós, brasileiros, somos criativos. Porém, sem generalizar, não costumamos ser autênticos. Estamos sempre recebendo a informação de outras culturas, absorvendo influências que não condizem em nada com a nossa realidade. Mas com o famoso jeitinho brasileiro, nos adaptamos facilmente a qualquer tendência que apareça e assim viramos uma massa pasteurizada.
Há algum tempo vemos movimentos que tentam encontrar o que temos de melhor na nossa cultura. Nomes como Jackson Araújo, Walter Rodrigues, Marcelo Rosenbaum e tantos outros são chamados pelos quatros cantos do Brasil para encontrarem o DNA regional através de seus processos criativos (incríveis e que merecem aplausos). Essa busca incansável pela criatividade nacional, financiada por empresários que sonham em traduzir no produto perfeito com a essência brasileira é muito pulverizado ainda (ao meu ver, são movimentos isolados).
Acredito que muitas vezes as respostas podem estar mais perto do que imaginamos, só falta abrir a mente para detectar e potencializar a criatividade adormecida. Ou quem sabe, se olharmos para dentro de nós, toda essa informação rica e exclusiva está lá, basta ouvirmos. Um silêncio interno no meio do caos urbano em que vivemos. Difícil, mas possível se olharmos para cases de sucesso de design ou da moda. Acredito que os maiores designers de produto tenham obtido sucesso através de ideias simples, corriqueiras do seu dia a dia. O mesmo se pode falar da moda, onde estilistas que criam por satisfação própria, acreditam nas formas que saem da sua mente e no resultado final da ideia inicial, obtém o sucesso. A preocupação com retorno financeiro pode ser vista como uma vilã para qualquer processo criativo. Muitas vezes relacionamos a criatividade à estrutura proporcionada pela verba investida em determinada ação: um design inovador, uma estratégia de marketing diferente ou ainda um blog de moda bem sucedido.
Mas tudo isso parece não ter sentido se você conhecer uma menina de 11 anos, que atende com sua conta no instagram por Gy Anália com mais de 120 mil seguidores. Ela poderia ser o símbolo da criatividade nacional. Simples, sem recursos e com muito humor, ela trata dos assuntos de moda e do universo pop com muita sabedoria, de uma maneira que deixa para trás muito social mídia experiente. Com recortes amadores e colagens piores ainda, ela cria imagens que ela sonharia que fossem realidade, como a foto que ilustra esse artigo, Gy entre as bloggers brasileiras na semana de moda de Paris. Ou ainda, montada com looks semelhantes às divas que ela adora, como Gisele Bundchen e Claudia Leitte.
O sucesso vem do conteúdo autêntico que produz, ela brinca com o que poderia ser um obstáculo e se torna uma Tavi Gevinson tupiniquim (lembram-se da menina prodígio que escrevia criticas de moda aos 13 anos de idade?). Não, não estou brincando, estou falando sério.
Pessoas que pensam na contramão da sociedade saem do óbvio e ainda viram os obstáculos a seu favor, merecem – no mínimo – atenção. Principalmente se estamos falando de alguém com 11 anos de idade. Ser uma Lala Rudge é fácil, difícil é ser Gy Analia. Lala entra em qualquer loja do Louboutin e compra o que desejar, Gy presta consultoria para suas seguidoras em um vídeo no YouTube, onde ensina a pintar a sola de vermelho com tinta guache. Insights como esse fariam muito bem a muitas equipes criativas, porque ela tem o que falta em muitas pessoas, a autenticidade nata. Desejo do fundo do meu coração, que o caminho dela se ilumine e ela possa crescer e aprender para exercitar o talento que possui.