Quatro jovens marcas narram sua trajetória e mostram como conseguiram destaque em âmbito nacional.
Montar um negócio próprio é como participar de uma maratona. Para percorrer a quilométrica trilha, é necessário meses (ou até anos) de preparação, que nunca parecem ser suficientes quando o corredor se depara com um imprevisto. Os desafios ao longo da prova descorajam muitos, mas no final, sempre restam aqueles que tiveram perseverança, paciência e confiança em si. Por isso nós, comunicadores na área de moda, ficamos felizes com o sucesso de novas marcas e jovens criadores no mercado. Então, resolvemos reunir alguns dos talentos de Santa Catarina para conversar sobre as suas trajetórias desde o nascimento de suas marcas.
Eles estavam em oito, sentados nas cadeiras, sofás e puffs do Café Riso de Jurerê. O clima era leve, como em uma reunião de velhos amigos, e o papo rolou solto em torno do denominador comum: suas marcas. Joice Alano e Karin Leida já trabalham com moda há dez anos para uma série de clientes. “Mas chegou um momento que o desejo de lançar uma marca própria tomou conta,” explicou Joice. Assim nasceu a Esh, uma marca moderna e divertida, que conversa com a mulher contemporânea. “Começamos com capsule collecitons de poucas peças sob o nome Razzle Dazzle, nossa empresa de consultoria. O sucesso foi tanto que evoluímos para algo separado e criamos a Esh.”
“Isso sempre foi um sonho nosso,” complementou Karin, algo que as fundadoras da La Marie, Mariana Pedrozo e Larissa Jardim, entendem muito bem. Ambas se formaram em Administração e a vontade de trabalhar com o mercado de moda surgiu quando Larissa terminava a faculdade. “Começou como um projeto, que se transformou em uma marca. Nosso desejo era mostrar uma moda diferenciada, que despertasse a confiança das mulheres,” contou Mariana.
Da mesma maneira, Tiago Durante e Rafael Lange, fundadores da Liverpool, começaram a trabalhar com estampas de camisetas quando cursavam Publicidade & Propaganda. “Tinhamos protótipos, que comercializavamos pelo Orkut,” contou Tiago. “Aí, produzíamos as camisetas por encomenda. Já que trabalhávamos em outros lugares, todo o lucro dos produtos se revertia em investimentos para a marca. Até que, há dois anos, a Liverpool virou nosso emprego full-time.
A Vish!, de Andreia Passos e Luiz Wachelke, também começou como uma marca de camisetas. “Era um desejo nosso de mostrar o nosso jeito de ser, o nosso estilo, através de roupas. Inspiramo-nos em uma viagem a Buenos Aires, pois lá há muito investimento em novos criadores e marcas pequenas. Voltamos empolgados,” lembrou Andreia. Hoje, foco da Vish! está na alfaiataria, uma transição que ocorreu na última coleção.
Quando perguntados sobre os desafios do mercado de moda, Joice foi rápida em pontuar três: knowhow de mercado, representação comercial e investimentos. Luiz concordou, “Não trabalhamos com representação para podermos buscar lojas que tenham nosso perifl. Aconteceu algo interessante conosco: os representantes de Santa Catarina tiveram dificuldade com nosso produto, pois estão acostumados com marcas muito comerciais. Aí tentamos o circuito de São Paulo e eles não conseguiram lidar com uma marca conceitual fora do eixo das grandes metrópoles!” Em contrapartida, Andreia compartilhou uma experiência muito positiva com parceiros-investidores. “Trabalhamos com a Lunelli, a Lancaster e a Renauxview em nossa última coleção. A parceria foi ótima para ambas as partes, pois pudemos aprender com o knowhow da indústria e tivemos a oportunidade de experimentar mais, com um leque maior de opções. Já as empresas lucraram com uma pesquisa de tendências oferecida naturalmente por nós e puderam ver seus produtos de uma nova maneira, talvez até mais ousada.”
Rafael aproveitou para apontar a aguçada concorrência como dificuldade, principalmente entre marcas de camisetas. “É um desafio mostrar um produto diferenciado, já há tantas marcas especializadas em camisetas e até grifes maiores que incluem a peça em seu mix de produtos,” complementou Tiago. “Por isso, procuramos a melhor estamparia, facção, tecidos…”. Nesse momento, todos concordam em uma grande vantagem de montar uma marca em Santa Catarina – a prosperidade da indústria têxtil do estado. “Moramos em Blumenau, ou seja, estamos no coração do Vale do Itajaí, um dos maiores polos têxteis do país,” explicou Karin. “Sem dúvida, isso é uma grande vantagem.”
Mudamos o rumo da conversa para meios de divulgação e, novamente, todos estavam em sintonia. “O público hoje consome Internet!” exclamou Luiz. Além da bem-sucedida área de e-commerce no site da Vish!, a página é a principal responsável por mostrar o trabalho dos criadores para pontos de venda em todo o Brasil e no mundo. “Quando você tem uma imagem forte, a Internet consegue difundi-la em proporções enormes,” afirmou Andreia. “Hoje nossa marca está em 24 pontos de venda, incluindo um na Espanha e um em Cingapura. Sem falar do retorno de mídia que a Vish! tem… já aparecemos em sites do mundo inteiro e até fomos convidados para a [feira de negócios] Bread and Butter Berlin graças à exposição na web.” A dupla da Esh concordou, explicando que toda a comunicação da nova marca foi realizada via Internet. Tiago complementou, “A Liverpool nasceu pela Internet e temos uma plataforma de e-commerce forte. Mas nosso volume de vendas vem mesmo é dos pontos de venda, que conhecem nosso trabalho pelo site.” A marca é comercializada em diversos estados brasileiros e, em Santa Catarina, conta com um público fiel em Balneário Camboriu.
Mariana citou outras facilidades da Internet, como a forma que as ferramentas eletrônicas (e-mail, redes sociais) podem aproximar consumidores. Mas afirmou que o maior feedback da La Marie vem dos representantes. “Eles são nossa maior fonte de pesquisa,” ressaltou. Nesse ponto, Joice enfatizou a importância de entender o mercado como um todo para o sucesso de qualquer empresa. “Temos que estudar as tendências, sim, mas é necessário ir além e saber um pouco de tudo que está acontecendo no mundo, pois às vezes coisas nada relacionadas à moda em si podem afetar de alguma forma nossos consumidores. A [revista] Exame, por exemplo, é leitura de cabeceira!” afirmou a empresária.
Viajar também faz parte do planejamento anual dos criadores, que buscam inspiração e conhecimento do mercado internacional para complementar o processo criativo. “As viagens agregam muito à marca, pois podemos estudar as tendências presenciar o estilo de vida de cada cultura,” explicou Rafael. “Nosso foco é a Europa. Há outras marcas e coletivos legais que acabam nos inspirando também, como a francesa Eleven Paris,” complementou Tiago.
Embora o início da carreira das quatro duplas tenha origem semelhante, cada uma tem planos distintos para o futuro das marcas. “Queremos crescer!” exclamou Joice. “A Esh é jovem, então pensar em expansão é natural. Mas estamos muito satisfeitas com o retorno da marca até agora!”. A Liverpool também almeja o crescimento, mas de outra maneira. “Nosso plano a curto prazo é aumentar o mix de produtos. Sempre vamos trabalhar com camisetas, mas o público – e nós mesmos – queremos agregar mais peças às coleções,” afirmou Rafael. “Uma loja conceito também faz parte do planejamento, mas isso virá mais para frente,” completou Tiago.
Para a La Marie, as ações futuras giram em torno da fidelização das consumidoras. “Pretendemos fidelizar os clientes já conquistados, valorizando cada vez mais o relacionamento com eles,” assegurou Larissa. Já os criadores da Vish! pretendem investir no novo caminho da marca, mais focado na alfaiataria. “Tivemos boa aceitação do público, então estamos mais confiantes nesse caminho,” explicou Luiz. “Mas nossa meta é sempre expressar nosso ponto de vista em cada coleção,” complementou Andreia.
Seja qual for a rota que os oito criadores decidirem tomar, podemos afirmar com toda certeza: a linha de chegada está cada vez mais próxima.
Camila Beaumord
Produção: Julie Fernandes
Imagens: Caio Cezar
Acho que SC produz muita coisa boa, porém comerciantes daqui ainda não perceberam isso!
Beijos