Luz nas Vielas

27.03.2012

Projetos sociais de arte nas favelas estão ganhando espaços e proporções maiores a cada dia. Além da beleza que torna-se visível ao mundo inteiro, cultura e alegria são disseminadas entre os moradores da comunidade e os demais envolvidos no projeto, como podemos ver em iniciativas como o “Luz nas Vielas”, do coletivo criativo espanhol Boa Mistura.

 

Formado por cinco mentes criativas, Rubén (Engenheiro Civil), Pablo (Ilustrador), Pablo (Designer Gráfico), Juan (Bacharelem Belas Artes) e Javier (Arquiteto), o coletivo criativo nasceu em Madri, com o objetivo de desenvolver trabalhos em vários campos a partir das tendências mais avançadas de graffiti e pinturas de murais nas ruas, design gráfico e ilustração.

 

“5 cabeças, 10 mãos, um coração”. É dessa maneira que referem-se a seu trabalho. “Antes de tudo, somos cinco amigos que nos conhecemos há mais de dez anos pintando graffiti no mesmo bairro”.

 

Desde a sua criação, em 2001, o Boa Mistura estava com um pé no Brasil, já que o nome escolhido para o coletivo foi uma homenagem a nós, brasileiros. Juntando o sonho de visitar o nosso país e uma oportunidade de trabalho, vieram realizar algo até então impensado. A Vila Brasilândia foi a tela em branco para o projeto Luz nas Vielas.

 

 

 

 

 

 

Encantados com o belo trabalho realizado pelos artistas, conversamos com o Boa Mistura para entender o processo desse projeto, a mensagem que ficou estampada aqui e as experiências que foram levadas para casa:

 

Catarina: O que os influenciou a escolher o Brasil para a realização desse trabalho?

Boa Mistura: Para nós era um sonho viajar para o Brasil. Sempre nos identificamos intimamente com o país e somos fãs de muitos dos artistas urbanos brasileiros. Na verdade, o nosso nome “Boa Mistura” é uma homenagem.

O gatilho foi um convite da Embaixada da Espanha no Brasil para ver o trabalho que tínhamos feito na África do Sul, então propusemos um projeto no Brasil. Eles poderiam financiar parte, e nós, embora tivéssemos que providenciar o restante de nossos bolsos, não paramos para pensar em nenhum momento. Se somaram ao projeto as empresas Montana Colors e Singapore Airlines, e graças a eles conseguimos parte das passagens e da pintura.

 

C: Qual foi o ponto de partida para a criação do conceito do projeto?

BM: Quando pousamos em São Paulo, não só nós sabíamos o que iríamos fazer, como tampouco onde. Graças à generosidade do artista Jaime Prades e André Palhano (diretor da Virada Sustentável), entramos em contato com Dimas. Ele é morador da Brasilândia, e está tentando dinamizar a cultura no local. Nós fomos lá para visitar, e ficamos apaixonados.

O nosso processo criativo é lento. Precisamos viver, sentir, cheirar, tocar o lugar. Para compreende-lo e sermos capazes de fazer um projeto “na medida”, único.

Nós nos mudamos para viver com a família de Dimas (que hoje é nossa família), e assim pudemos sentir o dia-a-dia da Brasilândia.
Logo descobrimos que os becos e vielas eram a essência da vida na favela. E foi por eles que intervimos ali. Eles são lugares de passagem dos moradores, de acesso às casas, de conexão de uns lugares a outros, e nos parecia importante interagir lá, com os moradores. Trabalhar nas vielas com eles, de mãos dadas. Compartilhando.

 

C: Como foi a execução do projeto na Vila Brasilândia?

BM: A reação da comunidade foi incrível. Nos receberam como se fôssemos de lá desde o primeiro momento. E se animaram espontaneamente a trabalhar conosco. Esse foi o fator chave, o envolvimento. Foi um contato mutuamente enriquecedor. Sem esse apoio nada teria feito sentido.

 

C: O que vocês puderam aprender através do contato com as crianças e moradores da comunidade?

BM: Nós voltamos com muito mais do que deixamos lá. Brasilândia é um lugar onde as crianças sorriem enquanto empinam suas pipas. Em cada uma das casas nos ofereceram café, suco, um prato para comer. Sua generosidade e carinho foram infinitos. Foi uma lição de vida. Com as crianças nós passamos os melhores momentos da nossa estadia. Estamos ansiosos para retornar.

 

C: Esse projeto está carregado de significados, que são interpretados de diferentes formas por cada pessoa. Do ponto de vista de vocês, que mensagem foi compartilhada com o Luz nas Vielas?

BM: São palavras de força e inspiração para o dia-a-dia de cada pessoa que passe por ali. Para nós, representam o que sentimos lá. BELEZA pelo que nos rodeia; FIRMEZA para atingir um objetivo; ORGULHO por termos alcançado; AMOR entre nós e a DOÇURA de cada pessoa que conhecemos.

 

C: Vocês já haviam realizado algum projeto no Brasil antes desse?

BM: Não, foi a nossa primeira vez.

 

C: E agora, pretendem fazer novos trabalhos por aqui?

BM: Claro. Sempre que for possível nós gostaremos de voltar. Se aparecer algum projeto aí, nós iremos encantados. O Brasil nos recebeu de braços abertos e, na Brasilândia, temos um bairro para voltar e uma família para visitar.

 

 

 

 

 

 

 

Emanuele Lazzari

 

1 Comentário para “Luz nas Vielas”

  1. Muito legal a iniciativa. Parabéns!

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