Geração Youtube

  

Depois da criação do YouTube, o conteúdo produzido para a internet jamais foi o mesmo. Em instantes, o assunto mais banal pode gerar milhões de visualizações.

A internet é um mundo cheio de possibilidades. Do dia para a noite, vemos fenômenos surgirem pela tela do nosso celular. Inúmeras marcas usam a força das redes sociais para alavancar seus negócios. Já algumas pessoas físicas ganham destaque e se tornam verdadeiras labels. Há alguns anos, quem diria que criar um perfil em uma rede social pudesse transformar alguém em celebridade? Quem diria então que uma simples selfie poderia gerar milhares de likes e centenas, às vezes milhares de comentários?
Karol Queiroz, de apenas 21 anos e natural de Florianópolis, também não esperava por isso. A jovem catarinense foi à Irlanda para trabalhar no começo deste ano e criou um espaço na web, para compartilhar essa experiência, que virou sucesso instantaneamente. Seu público fiel pediu incansavelmente por mais um meio de conhecer a sua vida, e foi aí que surgiu o canal no YouTube. Hoje Karol tem cerca de 52 mil inscritos no seu canal, com apenas 10 vídeos publicados. As pesquisas do site são apresentadas de forma randômica, ou seja, vídeos relacionados ao mesmo assunto são listados e agrupados, oferecendo assim diversas possibilidades para o internauta. Com essa lógica, Karol chega a 870 mil visualizações dos vídeos do seu canal.
O YouTube foi fundado em fevereiro de 2005 pelos americanos Chad Hurley e Steven Chen em uma garagem de San Francisco (Califórnia, EUA). Vinte meses após a sua criação, foi vendido para o Google por US$ 1,65 bilhões e hoje, segundo especulações, vale mais de US$ 125 bilhões. A valorização de mercado da empresa explica um pouco do fenômeno YouTube, que, dez anos depois, é o maior site no segmento de vídeos e o terceiro maior da internet, ficando atrás apenas do Google e do Facebook.
Nos primeiros anos, o YouTube fez mais sucesso em seu país de origem, os Estados Unidos. Em 2010, foi a vez de os brasileiros entrarem no mundo do YouTube, e de dois anos para cá o sucesso deles só aumenta. Os donos dos canais mais acessados viraram verdadeiras celebridades da web, que contabilizam milhões de visualizações e inscritos/seguidores, fazendo desse um negócio rentável e sólido.

REDES
Esse é um assunto recente, e nós entrevistamos o youtuber Luh Sicherolli (do canal Estilo Bifásico com aproximadamente 296 mil inscritos e 24 milhões de visualizações), que nos explicou melhor o que é uma rede e por que participa de uma:
— As networks, ou redes, como são chamadas aqui no Brasil, são empresas que ficam responsáveis pelo direito de vender os anúncios do seu canal.
Segundo ele, a vantagem nisso é que as redes conseguem captar clientes com um budget um pouco maior do que o do Google, e com isso conseguem pagar um pouco mais aos canais. Ou não. Algumas networks têm o contrato parecido com o do Google, com CPM (Custo Por Mil Visualizações) variável. Mas Luh completa:
— O diferencial é a aproximação que eles permitem que a gente tenha com o Google. Em questão de direitos autorais, eles ajudam um pouco também, e caso você tenha algum problema no seu canal, eles te dão todo o suporte necessário. –
É claro que esse suporte tem um preço – a maioria das networks cobra de 5% a 15% do ganho mensal do canal. Em contrapartida, as redes afirmam que o número de visitantes únicos dos seus vídeos só aumenta, consequentemente fazendo o canal ganhar mais. A StyleHaul Mundo, por exemplo, network focada em moda e beleza, informou que os canais brasileiros que administra têm seus visitantes únicos triplicados a cada ano (tais como o da Niina Secrets e o do Estilo Bifásico). Já o youtuber PC Siqueira (do canal Mas poxa vida com 1,8 milhão de inscritos e 190 milhões de visualizações) tem uma opinião um pouco contrária sobre o assunto, porém, com um questionamento relevante:
— Sou constantemente convidado a participar dessas redes, mas na minha opinião, o meu canal é grande o suficiente para eu não precisar de uma. Quando você é pequeno, é legal se filiar a uma network, mas uma que não tenha muitos canais envolvidos, porque se você está no meio de muitos, como é que alguém vai te dar atenção e te ajudar em alguma coisa?

WAY TALENTS
Karol Queiroz não participa de uma rede, mas de um projeto para digital influencers idealizado pela Way Model, agência criada pelo catarinense Anderson Baumgartner e seu sócio Zeca de Abreu. Se Kate Moss foi descoberta em um aeroporto e Gisele Bündchen no McDonald’s, por que não procurar uma nova modelo nas redes sociais? Melhor ainda se ela contabilizar milhares de seguidores! Karol é uma das principais apostas do Way Talents e, com o seu sucesso na web, a catarinense se destacou em mais um ramo, emplacando a campanha para a fast fashion C&A.

O MERCADO
Quando surgiram essas novas mídias, o mercado demorou um certo tempo para assimilar o fenômeno. Hoje já é bem diferente, principalmente como os blogs. Porém, o YouTube é uma mídia mais recente, então nem tudo são flores. Apesar de novo, Karol Queiroz considera o mercado para esse tipo de mídia bem amplo.
— Se você se dedicar ao seu canal, tem trabalho para todo mundo. Não interessa a quantidade de inscritos ou de visualizações, o importante é o conteúdo dos seus vídeos.
Luh Sicchierolli afirma que hoje acontece o caminho inverso.
— Para ambos [blogs e vlogs] tinha muito preconceito antigamente, mas as marcas e até as mídias tradicionais já estão nos enxergando com outros olhos e nos valorizando muito mais, a ponto de virem atrás da gente.
Bruna Santina, conhecida como Niina Secrets, possui o terceiro maior canal de beleza do país com aproximadamente 1,4 milhão de inscritos e cerca de 118 milhões de visualizações. Niina comemora que este mercado está melhorando, mas as empresas ainda estão tentando entender como lidar com esse novo meio de comunicação e com o público da internet. Como ela mesmo aponta, é muito diferente, por ser um público que tem muita palavra e consequentemente muito poder. Ela completa:
— É um processo que vai crescendo e mudando conforme o tempo vai passando, e eu acho que principalmente é um aprendizado para todo mundo, tanto para as empresas quanto para os consumidores. O fato é que o nosso papel como youtubers e criadores de conteúdo é ensinar a essas empresas a melhor forma de anunciar.

O FENÔMENO
Karol Queiroz e Niina Secrets comparam o fenô- meno com a televisão e afirmam que as pessoas se cansaram das mídias tradicionais, inclusive elas próprias. Karol explica o motivo:
— As pessoas são reais no YouTube, e os espectadores dão muita credibilidade a essa verdade.
Niina concorda e comenta:
— As minhas leitoras costumam me escrever, e a maioria delas fala que eu sou uma companhia para elas, é muito mais que só um vídeo. Estamos vivendo uma época em que as pessoas não querem mais tudo certinho; é tudo mais improvisado, e isso tem sido muito valorizado.
Luh Sicchierolli acredita que existam dois motivos que explicam o fenômeno.
— Primeiro, os youtubers se ajudam muito, principalmente na área de moda e beleza, então nós procuramos sempre fazer vídeos juntos, e com isso todo mundo cresce. Outro motivo é que a pessoa pode escolher o que ela quer assistir, e esse é o grande fator de sucesso do YouTube.
Na mesma linha de pensamento, PC Siqueira afirma que chegou uma época em que o fenômeno iria acontecer de alguma forma, sendo o YouTube ou outra marca. E acrescenta:
— As pessoas que começaram a usar a internet têm certa idade já para poder consumir e pagar por certos conteúdos. A conexão da internet também está melhor, então fica viável para a pessoa assistir a um vídeo sem ficar esperando três horas e sem perder muito tempo para ver, é rápido.

E DAQUI 10 ANOS?
A verdade é que ninguém sabe ao certo como será no futuro. Karol, Luh, PC Siqueira e Niina tiveram a grande sacada de entrar no YouTube e hoje são referências no ramo, por isso perguntamos aos entrevistados como eles imaginam o fenômeno no futuro. Karol Queiroz, pensativa, afirma que tudo na internet muda muito rápido, e usa como exemplo os colegas youtubers:
— Há cinco anos, a primeira pessoa [PC Siqueira] começou a ganhar com esse tipo de conteúdo, que hoje é a fonte de renda de tantos profissionais. Mas vou arriscar, acredito que as redes de televisão logo vão buscar no YouTube seus apresentadores e novos formatos de programa.
Quanto a ela, Karol afirma que daqui a dez anos estará presente em todas as redes sociais, sempre antenada. Luh Sicchierolli espera que tudo isso ainda exista e continue fazendo sucesso, e ainda arrisca um palpite:
— Quem sabe isso tudo vire a nova televisão e a gente consiga levar ainda mais informação às pessoas?
Já Niina Secrets foi mais cautelosa:
— É difícil dizer, porque ninguém sabe como vai estar a internet, o quão avançado ou não vai tudo estar.
Mas ela diz que vai migrar cada vez que surgirem novidades, como plataformas ou redes sociais novas, e que pretende seguir e continuar com o que faz. PC Siqueira também continuará pela internet, e arrisca:
— É muito mais próspero e muito mais legal o que vai acontecer na internet nos próximos dez anos, mesmo não sabendo de fato o que será. O que eu tenho certeza é que a internet vai superar a TV, e em poucos anos a gente não vai mais assistir à televisão do jeito que a gente assiste; já não estamos mais, na verdade. Mas essa próxima geração que já nasceu com o iPad na mão daqui a dez anos vai consumir as coisas de forma completamente diferente, e ninguém mais vai esperar um horário para assistir a nada. E eu imagino que os orçamentos para tudo vão ser direcionados para a internet.
Sem dúvidas!

por Diego Sfoggia
pauta publicada na Revista Donna, cliente Catarina
Fotos Karol: Hudson Rennan
Foto Niina: Rodolfo Corradin
Foto Luh: 2MIXX
Foto PC: Eric Garcia