Fazendo as contas – O porquê da moda custar caro no Brasil
Por Bia Carminati
Os impostos têm grande culpa, mas não são os únicos vilões que justificam preços tão altos para a moda no Brasil.
Marcas americanas e europeias terceirizam a produção em países como China, Japão e Indonésia, onde a mão de obra é extremamente barata e a energia elétrica subsidiada pelo governo. Além disso, a margem de lucro de empresas nacionais pode chegar a 100%, enquanto em países desenvolvidos, não passa de 10% a 20%.
Foi com base nessa pesquisa que chegamos ao passo a passo da produção de uma coleção no Brasil. Pegue o lápis e acompanhe a matemática conosco.
1// Pesquisas de Tendências
Para acertar o que as consumidoras vão querer, é preciso investir em pesquisa. Empresas podem pagar até R$ 40 mil por assinaturas de bureaux de estilo que coletam tendências e ajudam a definir o que vai ser produzido na próxima coleção.
Grifes também podem bancar viagens de pesquisa para seus estilistas – seja para grandes centros lançadores de moda, como Berlim e Londres, seja para lugares que possibilitem inspiração mais original, como países africanos.
2// Produção e acabamento
O primeiro item a ser definido é o tecido: quanto mais nobre, mais alta a conta no final, claro. Os estilistas costumam buscar também estampas exclusivas – e para chegar ao resultado desejado de cores e definição, pode ser necessário “reimprimir” a tal estampa até cinco vezes. Peças-piloto também são fato importante: pode ser preciso produzir até oito peças-piloto para chegar ao modelo final – no caso dos jeans, por exemplo, é fundamental que se adaptem ao corpo das exigentes consumidoras. Esse custo tem de ser diluído no preço das roupas que serão vendidas na loja.
Técnicas exclusivas (bordados artesanais, aviamentos exclusivos, lavagens manuais para efeitos no tecido) diminuem a capacidade de produção de uma marca. E aí, não tem jeito: quanto menos peças chegam às lojas, maior a exclusividade e, evidentemente, o preço.
3// Impostos e precificação
No resto do mundo, é comum haver um único imposto que incide sobre o consumo. No Brasil são seis: IPI, ICMS, ISS, Cide, IOF e Cofins. O ICMS, por exemplo, incide sobre o Cofins e o PIS. Ou seja: paga-se imposto sobre o imposto que já havia sido cobrado. Cerca de 38% do valor pago na sua roupa nova vai para o governo.
Definir a quantidade de peças produzidas também é fator-chave para calcular o valor final. Nas grandes redes varejistas, as negociações com os fornecedores são muito mais competitivas e as matérias-primas chegam a custar cinco vezes menos. Alto volume é igual a baixo preço (na teoria, pelo menos).
4// Marketing
Paralelamente a esse processo de produção de uma coleção, há uma equipe pensando exclusivamente em vendê-la. O time de marketing de uma marca tem que captar o conceito das roupas e transformá-lo em um desfile impactante, vitrines de sonho, campanhas para a web e para revistas, catálogos incríveis e luxuosos… Some aí os custos de fotógrafo, making of, stylist, maquiadores, modelos ou grandes celebridades.