ENTREVISTA: ALUNOS DA UDESC PREMIADOS NO DFB

Num final de tarde, no meio do Ceart e já com o troféu na mesa (risos) bati um papo super divertido com os alunos da Udesc que ficaram em 2 lugar no concurso de novos talentos do Dragão Fashion . Um grupo montado por alunos de diversos períodos que vão de 3 ao 7, junto com um professor regente, aceitaram o desafio e correram atrás. Apesar de tentativas anteriores o alunos participaram pela primeira vez do evento e já chegaram chegando, levando um dos troféus para casa.

Quando perguntei porque eles decidiram participar, um deles disse gostar de competição, e completou que é nessas horas que a gente acaba aprendendo de verdade. Com a temática principal Moda em 360 graus, Economia Circular. Os alunos da Udesc criaram uma coleção inspirada no “Mané”, com base no contraste dos pescadores locais e o turista, eles quiseram fazer uma convergência entre os dois, valorizando a cultura local de Florianópolis.

Falando sobre 360 e economia circular, os alunos destacaram a importância do tema na moda. Disseram que apesar dos avanços, acreditam faltar diálogo entre a moda e a sustentabilidade, por tudo que a moda produz de excessos . Eles falaram também da importância da amplitude do tema, o que pode fazer com que eles se dedicassem mais no processo criativo, focando numa coleção diferenciada e com propósito.

O Mané veio de forma natural, e a base da ideia veio através dos materiais para a reutilização. O Ecomoda patrocinou, parte dos tecidos utilizados que variam entre, pet, banner, refibragem de malha, rede e cordas de pesca. Até os ilhoses eram feitos de banner, tudo para reaproveitar material. Eles destacaram também que para trabalhar com a economia circular eles tiveram que pensar muito no material antes. Que a cartela de cores apesar de se adequar ao tema, foi desenvolvida após a escolha dos materiais, e consideraram isso um desafio, quando você passa a fazer o processo criativo ao contrário do tradicional.

Quando questionados sobre a importância de estar num evento como o Dragão fashion, todas riram e falaram, nem imaginávamos que ele era um evento tão grande e de tanta importância. Destacaram a estrutura, mas marcas e até a força das Universidades concorrentes. Falaram muito sobre a aprendizagem, que muitas vezes vai além do que aprendemos na universidade e que muda quando partimos para a prática de fato.

Evidenciaram a ideia de poder pensar mais na cadeia produtiva e poder legitimar aquilo que eles idealizaram, foi inspirador. Ver os outros e saber que você pode se destacar e ser melhor, é importante de comparar, destacaram. Tudo foi praticamente a primeira vez, até o fashion film, que foi desenvolvido com a ajuda de amigos, assim como os makes e a trilha sonora. Através disso eles perceberam que uma boa linguagem pode ser uma nova forma de apresentar as roupas, atingindo um maior público.

Agora o desafio é procurar novos projetos, e continuar participando de iniciativas como essa. Mas além do evento e do concurso resolvi questioná-los e Futuro da Moda, como vocês estudantes veem isso?  

E uma das resposta foi: Ao mesmo tempo que eu não quero alimentar uma indústria que só produz lixo eu também preciso de um emprego. É muito difícil abrir nossa própria marca, o ruim é ter escolher entrar na indústria menos pior. Outro aluno completou: É um desafio pensar na sustentabilidade na moda e construir uma mudança e ao mesmo tempo ter que viver dentro do sistema.

O desafio está lançado a esses novos designers, e eu como uma defensora das grandes mudanças não poderia deixar de dar um pequeno discurso no final, ressaltando a importância de repensar nossas formas de consumo, e de  reformulamos nosso processo de desenvolvimento de coleção, agregando o Design à Sustentabilidade e trazer produtos inovadores e diferenciados para o público consumidor. Pensar diferente e desenhar um melhor futuro, é isso que queremos. No mesmo dia mas um pouco mais tarde, também tive a oportunidade de conversar com o Professor Lucas da Rosa – Doutor em Design pela PUC-Rio.

Como é ser orientador de um projeto como esses?

Aceitei o convite dos alunos e recebi autorização da Chefe do Departamento de Moda, Lourdes Maria Puls, para orientar a equipe. Sempre é desafiador orientar projeto que tem como proposta o de pensar a sociedade expressa em coleção de moda. A atividade fica mais desafiadora quando não faz parte do meu Plano de Trabalho Individual (PTI) de professor, tendo necessidade de trabalhar voluntariamente, de forma extra, em todas as tarefas de orientação necessárias para realizar a concepção, desenvolvimento e produção/confecção dos looks/trajes.

O projeto iniciou em novembro/2017 e nas férias de janeiro/2018 tivemos de nos reunir e empenhar para dar conta de finalizar o book de coleção antes de iniciar o período letivo, em  fevereiro/2018. Pois, quando o expediente na UDESC retornou, iniciamos a confecção do look que seria enviado para a avaliação dos jurados do Concurso dos Novos 2018.

 

De onde veio o apoio ao projeto? E os materiais, onde vocês encontraram, tiveram parcerias?

Alguns professores do Departamento de Moda da UDESC auxiliarem e opinaram em alguns pontos da coleção. Para podermos confeccionar os looks, foi autorizado que utilizássemos os Laboratórios de Tecnologia do Vestuário E Economia Criativa (para desenvolver a Modelagem) e o Ecomoda (que disponibilizou uma boa parte de materiais utilizados na coleção), ainda, confeccionamos as peças no Atelier de Confecção. Todos esses espaços estão vinculados ao Departamento de Moda.

Parentes da equipe auxiliaram na aquisição de parte das redes, boias e outras coisas usadas na pesca. Nós gastamos pouco dinheiro de nossos recursos financeiros próprios para comprar materiais necessários para utilizar na coleção.

A empresa Show Rio, de São João Batista (SC), desenvolveu 1 modelo de calçado exclusivo para a coleção, confeccionando 4 pares dele. Os outros calçados foram emprestados da empresa Santa Tainha, de Florianópolis (SC). Da empresa de meias LOA, de Blumenau (SC), apoiaram com as meias.  A Direção Geral do CEART e a Reitoria apoiaram com a compra de passagens para a equipe.

 

Na sua opinião qual a importância dessa vivência para os alunos?

Acredito que esse tipo de projeto aproxima o ambiente acadêmico, mais teórico, de uma experiência prática e experimental de mercado de moda. Normalmente, em empresa de moda, e até mesmo no meio acadêmico, o método lógico é mais utilizado, pois, segue-se um padrão que parte das ideias de peças para, em sua maioria, decidir depois quais materiais utilizar.

Como a proposta do Concurso dos Novos 2018 era o de trabalhar com Economia Circular optamos em desenvolver a coleção a partir do método estético, ou seja, primeiro selecionamos os materiais que atendessem a lógica da Economia Circular, pensando no uso de materiais de reciclagem ou o mais sustentável possível.

A partir disso começamos a desenvolver as ideias das peças que tivessem relação direta com a Coleção Mané, unindo o tradicional e o contemporâneo que acontece na cidade de Florianópolis (SC) a partir da interferência que os turistas influenciam na cidade. Então, pensamos num sujeito “turistão” que surge da mistura de diferentes culturas.

 

Percebi que o grupo era misto (de diversas fases) isso auxiliou no processo?

De acordo com o Edital do Concurso dos Novos 2018, a equipe poderia ter, no máximo, 6 membros, distribuídos nas seguintes categorias/funções: (1) Estilo – Criação; Pesquisa; (2) Desenvolvimento de Produto – Modelagem e Montagem; e (3) Styling/Produção de Moda.

Assim, 8 alunos enviaram seus portfólios para avaliação interna de uma banca de professores do Curso de Moda da UDESC. Uma aluna acabou desistindo, assim, dos 7 alunos 6 foram escolhidos. O fato de ter 2 alunos da 2ª fase e 4 alunos da 6ª fase não foi um grande complicador, pois, cada dupla ficou responsável por uma das 3 funções dispostas no Edital.

Porém, mesmo os 2 alunos da 2ª fase foram ensinados a fazer coisas que ainda não tinham aprendido, em especial, nas questões que envolveram a modelagem e a confecção das peças. Foi uma experiência de aprendizado para todos nós, em especial, ao utilizar materiais alternativos como as redes, cordas e bóias, pois, o tempo escasso não permitiu fazer testes de modelagens, confeccionando protótipos. Muitas coisas tiveram de ser feitas diretamente nos materiais que geraram as peças finais.

 

Créditos do Fashion Film 
Fotógrafa: Tainá Bernard
Beauty: Maria Manoela Lampert
Música: Gabriel Strobel
Modelo: Breno Cora
Estilistas: Bruna Cruz, Carla Pietra, Gabriel Bohn, Jessica Steffan, Letícia Caponera e Victor Miaki.

Créditos projeto técnico

Orientação Geral: Professor Lucas da Rosa
Croquis, acessórios e diagramação: Jessica Steffan
Desenhos técnicos: Jessica Steffan, Carla Pietra e Letícia Caponera.
Modelagem: Bruna Cruz e Victor Miaki.
Confecção: Bruna Cruz, Carla Pietra, Gabriel Bohn, Jessica Steffan, Letícia Caponera e Victor Miaki.

 

Créditos editorial do projeto técnico
Fotógrafa: Flávia Dummer
Direção criativa e styling: Gabriel Bohn e Letícia Caponera.
Modelo: Miranda
Beauty: Maria Manoela Lampert

 

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