Por Camila Beaumord
Experimentações com texturas, cortes e recortes inusitados, tecnologia têxtil que eleva as peças a um patamar muito mais sofisticado. Quem assistiu aos desfiles de Adriana Degreas e Liana Tomaz ontem na São Paulo Fashion Week teve mais uma prova de que a moda praia brasileira é exatamente isso – moda. Enquanto há o debate do verdadeiro DNA do Brasil na vestimenta, em que as referências europeias ainda ditam o que chique e sofrem modificações nas cores e comprimentos para chamarmos de “nossas”, as praias são a expressão mais pura da nossa visão do assunto. As areias são a passarela e o calçadão é a “street”.
Nada disso é novidade. Mesmo quem não acompanha moda sabe que é a Europa e os Estados Unidos que copiam o nosso beachwear e que adaptam os nossos cortes para encaixar em um padrão mais conservador. A participação de estilistas brasileiros em eventos nos balneários estrangeiros é exorbitante, chegando até a ofuscar os talentos locais. Sem falar nos números movimentados pelo mercado interno – em 2010, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) registrou que o setor movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão por ano por aqui.
E, no entanto, é um segmento que passa por uma crise pouco discutida, mas não menos forte, aqui no Brasil. Pois se há o lado cruel da praia para a moda é justamente a democracia que o espaço oferece. Lá somos todos iguais, um motivo que faz das areias parte da cultura brasileira desde a época de Dom Pedro. O grande público consumidor não se importa com as temporadas quando o papo é beachwear, fazendo o fator “preço” pesar na decisão de compra muito mais do que os diferenciais que destacamos no começo do texto. E quando isso acontece, abre margem para as fabricações informais, que dificultam a chegada da verdadeira criação brasileira ao público.
Então, o que fazer? O beachwear é um dos segmentos mais respeitados em desfiles no Brasil, mas fora das passarelas, são poucos que o encaram verdadeiramente como moda. Isso não é culpa do consumidor, aliás, em uma sociedade obcecada por marcas, é quase um alívio não ter que lidar com o tema inclusive quando tomamos sol. Em contrapartida, não usufruir de artigos em que a real criação brasileira tem espaço para brilhar (e brilha há quase 70 anos) chega a ser um desperdício.
O mercado tem todas as ferramentas na mão. Há dois enormes eventos esportivos prestes a acontecer, em que o fluxo de turistas prontos para ficarem encantados com as novas propostas chegará a um patamar histórico. Esperaríamos que justamente este ano as marcas de beachwear tivessem um peso um pouco maior na SPFW, em vez de apeans três desfiles em um line-up com 32 nomes (lembramos que Movimento se apresenta hoje às 17:00).
Mas ao menos os três representantes do setor vieram muito bem preparados. E ainda temos vários eventos para mostrar essa cara do Brasil.