A dura vida de modelo

23.03.2012

São poucas as profissões que geram tanta controvérsia quanto a de modelo. Ano após ano, surge uma nova polêmica na indústria (ou a reciclagem de um antigo debate) que acaba afetando a visão mundial sobre os padrões de beleza. É o caso da nova lei de Israel, divulgada esta semana, que define os parâmetros de saúde para que uma modelo possa trabalhar no país.

 

O papo é bastante sério:  segundo o texto, a participação de uma modelo em qualquer tipo de mídia só poderá ser aprovada mediante a apresentação de um relatório médico atual, que especifica as condições de saúde da paciente. A referência é o Índice de Massa Corporal estipulado pela Organização Mundial de Saúde (chegar a um resultado abaixo de 18,5 significa que o candidato sofre de desnutrição e, no caso das tops, é base para cancelamento de contrato).

 

Bar Refaeli, principal modelo de Israel, estrela o calendário da Passionata

 

Esse movimento já é seguido por outras entidades. Coselhos como o CFDA e o British Fashion Council cada vez mais impõem regras para assegurar o ambiente de trabalho saudável para as modelos. Mas em um setor em que as qualidades físicas de seus profissionais predominam quaisquer outras características, nem sempre é fácil controlar as irregularidades.

 

É o que acontece com as modelos “meninas”, outra grande discussão do ano devido à exposição do problema pelo documentário Girl Model, exibido em diversos festivais de cinema – inclusive no SXSW, mais recentemente. Embora as leis trabalhistas sejam claras (na grande maioria dos países, é necessário ter no mínimo 16 anos para atuar no segmento adulto), há milhares de garotas pré-adolescentes ingressando no feroz mercado da moda.

 

O doc de Ashley Sabin e David Redmond acompanha as dificuldades da siberiana Nadya Vall, que viaja para Tóquio sozinha, aos 13 anos, para estrelar em seu primeiro trabalho como modelo. Momentos desesperadores com as barreiras do idioma e as inseguranças do começo da carreira são todos retratadas. Os diretores afirmam que a intenção nunca foi de gerar polêmica ou mudar a indústria: “Não queremos desmoralizar a indústria da moda. [O filme] tem mais a ver com criar um espaço participativo para se ter uma conversa a respeito do fato.”

 

E haja conversa! “Essas meninas são abusadas, seja financeiramente, sexualmente ou emocionalmente,” declara Rachel Blais, modelo de 26 anos que serviu como consultora para a elaboração do documentário. “Elas são levadas para longe de casa e, na maioria das vezes, nem entendem a língua! Elas vivem com outras modelos, que também são jovens e isso normaliza coisas que não são normais.” Rachel ainda diz que as garotas são alvo fácil para a prostituição, que as mentiras em torno de suas idades partem das próprias agências e que cirurgias plásticas para agilizar o amadurecimento físico das meninas não são raras.

 

Nadya Vall, em editorial para a revista Brand – abril de 2011

 

Em contrapartida, a própria Nadya Vall (hoje com 17 anos) está enfurecida com o enfoque do documentário e desmente tudo que aparece na tela. “Minha agência […] sempre me leva a boas agências no exterior! Eles não mentem e cuidam muito da gente,” exclama. A jovem até tentou entrar em contato com o diretor Redmond: “Após o lançamento do filme, escrevi uma mensagem perguntando por que eu estava recebendo cartas de pessoas desconhecidas de outros países. Elas me ofereciam ajuda como se eu fosse uma vítima, então pedi a ele o filme para assistí-lo inteiro. Ele respondeu que não entendeu a resposta das pessoas e que me enviaria uma versão em russo. Mas até agora, não recebi nada!” Nadya promete cortar qualquer tipo de comunicação com a produção de Girl Model, e sua agência (NOAH) já prepara os processos judiciais para proteger os interesses da modelo. “Essas pessoas horríveis fizeram uma história real virar um lixo. Eles NÃO DEVEM SER CONFIADOS!” finaliza Vall.

 

Veja o trailer do documentário responsável pela controvérsia:

 

 

 

Camila Beaumord

Imagens: Divulgação

 

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