Ultimamente, temos falado aqui no site de vários talentos que administram marcas ou empresas com bastante sucesso, sem comprometer sua identidade criativa. Ao pensar nos novos nomes que ditarão (ou melhor, já ditam) o rumo da moda no Brasil, é difícil não chegar à Karin Feller. Formada há menos de quatro anos pela Faculdade Santa Marcelina, a designer foi a primeira vencedora do Projeto Ponto Zero – lançador de talentos promovido pela ABIT, em parceria com a Casa de Criadores e o Mercado Mundo Mix – e instantaneamente se tornou uma das maiores apostas no cenário brasileiro. Suas coleções delicadas caíram no gosto de milhares de garotas, conquistando um público fiel que cresce a cada estação.
Porém, mais do que por sua criatividade, Karin merece ser aclamada por sua visão de mercado. A estilista investe em mostrar seu trabalho em feiras ao redor do mundo e em pontos de venda em diversos países. Baseada em São Paulo, assinou uma coleção para a C&A com as colegas Dani Hasse e Yoon Hee Lee no ano passado, e foca em firmar sua marca homônima e em suas ilustrações, uma antiga paixão.
Além da Casa de Criadores, Feller participou este ano da Brasil Fashion Cruise, evento que apresenta as coleções em alto mar (a bordo do luxuoso MSC Orchestra), junto a marcas conceituadas como Amapô e Neon. Karin também se aventurou no universo dos acessórios, ao firmar parceria com a marca de eyewear Absurda.
Em entrevista com a designer, conversamos um pouco sobre suas influências, planos de carreira e nova coleção, inspirada em Amélia Earhart, primeira aviadora a cruzar o Atlântico nos anos 1930. Conheça um pouco mais sobre Karin Feller em nosso bate-papo exclusivo!
Catarina: Você veio ao Brasil de Israel, aos nove aninhos. Como foi essa transição? Qual foi a parte mais difícil da mudança?
Karin Feller: Na verdade, de início foi bem tranquilo. Fui morar no sul e o ritmo de vida não era muito diferente. Difícil foi quando me mudei pra São Paulo, aos 13, e descobri um tipo de vida totalmente diferente, muito mais frenético do que eu levava.
C: Você acha que a mudança influenciou suas decisões profissionais posteriormente?
KF: A parte de me mudar pra São Paulo reafirmou o que eu pretendia como profissão. Eu gostava de desenhar, mas me apaixonei pela profissão quando pude acompanhar mais de perto estando aqui.
C: Além da Casa de Criadores, a marca Karin Feller desfila no Mercado Mundo Mix em Portugal. Quais as diferenças entre a moda lusitana e brasileira? Você pretende explorar esse mercado com mais intensidade?
KF: Os portugueses têm uma moda um pouco mais clássica, então se divertem com as nossas criações e gostam delas. Minhas peças venderam super bem por lá. Assim que o mercado se estabilizar, quero voltar a explorar as vendas por lá de uma maneira mais intensa.
Imagem do lookbook da coleção Inverno 2012
C: Você também já expôs em Las Vegas e tem pontos de venda em diferentes cidades internacionais. Como os outros países absorvem a proposta da marca?
KF: A graça de expor fora é que as pessoas se interessam pela marca através do produto, e não tanto pelo nome em si. Tenho a oportunidade de ver a aceitação das peças de acordo com os seus estilos, tecidos, caimentos. Eles gostam principalmente da parte da estamparia, e tudo que tiver uma pitada de Brasil cria bastante interesse.
C: Muitas empresas estão migrando para o e-commerce, que rompe as fronteiras para muitos consumidores. Isso está nos planos futuros da marca?
KF: Sempre precisamos nos manter atualizados. A marca já vende em alguns sites de multimarca, e eu acho essa proposta bastante interessante!
C: Vamos falar sobre a sua coleção de inverno 2012. Usar a figura de Amelia Earhart é um complemento ao tema “Migração” da coleção de verão?
KF: Não era, mas acabou sendo! Foi uma continuação de vontades de estética, mas o tema da Amélia teve mais a ver com a figura da mulher no começo e acabou se focando bastante em suas viagens. Eu amei trabalhar esse tema.
C: As peças, ainda super românticas e femininas, estão mais maduras e podem alcançar um público mais velho. Uma Karin Feller “adulta” está nos planos da marca? Como é o seu processo de criação e o que você pretende incorporar no futuro?
KF: Sim. Gosto de atingir o mercado em que a palavra “madura” não se refere tanto à idade e sim a comportamento. Gosto de pessoas decididas que podem utilizar as peças para reafirmar uma personalidade.
Meu processo de criação tem muito a ver com observação. Eu sou muito curiosa e admiro muito muitas mulheres. Interessa-me ver como elas fazem suas escolhas e o porquê de cada código de vestimenta.
C: Você também é uma ilustradora talentosa. Como concilia os jobs relacionados à ilustração (como o material da Erbele Fashion) com a carreira de estilista?
KF: Eu amo ilustrar! Esses jobs fazem parte da minha rotina de estilista, porque ligam a parte de ser ilustradora com as parcerias que a marca firma.
C: Quais são suas principais referências e fontes de inspiração?
KF: São muitas! Música é um dos pontos principais de inspiração, porque eu escolho o que eu quero ouvir de acordo de como quero me sentir pra desenhar. Acho que criação é muito ligado ao humor. Fora isso, gosto muito de paisagens, filmes, referências culturais, animais, etc.
C: Você é uma estilista super jovem que além de vencer o Projeto Ponto Zero no final da faculdade, já tem fama nacional e internacional. Qual é o seu conselho para aqueles que almejam uma carreira tão promissora quanto a sua?
KF: O meu conselho é que quando se faz o trabalho com amor, responsabilidade e pé no chão, as coisas acontecem. A gente tem que engolir algumas dificuldades, nem tudo é um mar de rosas, mas o objetivo final tem que estar claro. O mercado tem espaço para todos, desde que a gente se una. Acredito muito no mercado brasileiro e sou apaixonada pela ideia de fortalecer o produto nacional. Espero que o mercado cresça para que os profissionais possam batalhar cada vez mais.
Camila Beaumord
Imagens: Divulgação e Fotosite